A interação entre o sistema digestivo e o cérebro vem sendo estudada há muitos séculos, mas recentemente, a microbiota intestinal foi incluída no conceito de EIC, que passou a ser denominado eixo microbiota-intestino-cérebro, de maneira que doenças neurodegenerativas, transtornos psiquiátricos tais como ansiedade, depressão e transtorno do espectro autista (TEA) vêm sendo relacionados a alterações da microbiota intestinal e processo inflamatório.

​

Embora ainda precisemos de mais pesquisas, existem estudos importantes que mostram que as reações alimentares na neurodiversidade (autismo, TDAH...) aumentam, com a maioria das evidências apoiando as sensibilidades alimentares. O que se percebe é que as alergias ou sensibilidades alimentares são mais comuns em indivíduos dentro do espectro autista ou com transtorno de defict de atenção e hiperatividade.

​

Primeiramente, é preciso compreender a diferença entre Alergia e Sensibilidade Alimentar ou Intolerância. Vamos lá?

​

​

Alergias

​

​

A alergia se caracteriza pela reação de defesa imediata do corpo, acionada pelo sistema imunológico, frente a alimentos ou substâncias que nosso organismo não reconhece. As reações alérgicas se manifestam na pele, no sistema digestório e/ou respiratório e se caracterizam por ocorrer logo após o contato com a substância causadora. Devido à possibilidade de um choque anafilático, é necessária intervenção urgente em casos de alergia.

​

A fisiopatologia do TEA ainda não foi totalmente esclarecida, porém atualmente muitos estudos descrevem a interferência entre a alimentação e o EIC com relação a doenças neuropsiquiátricas. Foi encontrada maior prevalência de sintomas gastrointestinais entre crianças com TEA. Além disso, pais de crianças autistas relatam com mais frequência que seus filhos tenham alergias alimentares. A alergia alimentar pode envolver alterações na microbiota intestinal, ativação alérgica imunológica e função cerebral prejudicada por meio de interações neuroimunes, que podem finalmente afetar o sistema nervoso entérico e o sistema nervoso central, levando a anormalidades do neurodesenvolvimento psiquico e comportamental.

​

​

Sensibilidade Alimentar

 

 

A sensibilidade possui reações parecidas com a alergia. É causada por uma reação exagerada do sistema imunológico perante o contato com pelos de animais, descamações, pólen, mofo, proteínas alimentares, etc.  Mas, diferentemente da alergia, as reações do organismo ocorrem de maneira atenuada, podem demorar de 45 minutos a 3 dias para se manifestar e são concentradas no sistema gastrointestinal, gerando sintomas como diarreia, vômito, inchaço do abdômen. 

​

Em um estudo de Jyonouchi em uma Clínica Pediátrica de Alergia / Imunologia, foi sugerido que os médicos devem estar cientes do impacto potencial das doenças alérgicas nos sintomas comportamentais e na capacidade cognitiva em crianças com TEA e que certas "alergias IgE" podem não ser alergias em todos, eles podem ser causas não mediadas por IgE (sugerindo sensibilidade a alimentos).

​

Outro estudo analisa a sobreposição de sintomas gastrointestinais com sintomas básicos de TEA que incluem vias no acesso intestinal ao cérebro, que contribuem para alterações no comportamento e cognição, incluindo reações alimentares GI mediadas por IgE e / ou células e distúrbios relacionados ao glúten (doença celíaca, alergia ao trigo, sensibilidade ao glúten não celíaco).

​

 

Intolerância Alimentar

 

 

Diferentemente das duas condições anteriores, a intolerância não possui envolvimento algum com o sistema imunológico, ela é uma reação exclusiva do sistema digestivo. Nos casos de intolerância, o sistema digestivo é incapaz de processar determinados alimentos devido a ausência de da enzima que realizaria a digestão. Por exemplo, em pessoas intolerantes à lactose, não possuem a enzima lactase, que realizaria a digestão do principal açúcar o leite. 

​

​

É de extrema importância que sejam detectados e identificados o quanto antes as reações do nosso corpo e de nossas crianças, principalmente aquelas diagnosticas com TEA/TDAH. Para que possamos trabalhar juntos e estabelecer qualidade de vida de forma integrativa e individualizada.